CALENDÁRIO MAIA
Textos originais são vagos e dão margem a todo tipo de interpretação. Foi o que bastou para a sua usurpação e a criação do mito contemporâneo sobre o Apocalipse
O calendário de conta longa é apenas um entre os vários que os maias usavam. Assim como os nossos meses, anos e séculos, ele se estrutura em unidades de tempo cada vez maiores. Cada 20 dias formam um ´mês´, ou uinal. Cada 18 uinals, 1 tun, ou ´ano´, cada 20 tuns faziam um katun e assim sucessivamente. Enquanto o nosso sistema de contagem de séculos não leva a um fim, o calendário de conta longa maia dura cerca de 5.200 anos e se encerra na data 13.0.0.0.0, que para muitos estudiosos (não há um consenso a respeito) corresponde ao nosso 21/12/2012.
Isso não significa que eles esperassem pelo fim do mundo naquele dia. ´Os povos ameríndios não tinham apenas uma concepção linear de tempo, que permitisse pensar num fim absoluto´, diz Eduardo Natalino dos Santos, professor de história da América Pré-hispânica da USP. Ele diz que há textos míticos maias que falam em idades anteriores ao aparecimento da humanidade atual, e afirmam que a era atual duraria 5.200 anos. ´Mas em nenhum lugar se diz que o ciclo que estamos vivendo seria o último.´ A maioria dos estudiosos acredita que, após chegar à data final, o calendário se reiniciaria. Assim como, para nós, o 31 de dezembro é sucedido pelo 1 de janeiro, para eles o dia 22/12/2012 corresponderia ao dia 0.0.0.0.1.
Entre os milhares de textos maias conhecidos, há apenas um que faz menção à data. Uma inscrição encontrada na ruína de Tortuguero (Costa Rica) diz que nela virá à Terra Bolon Yokte K´u, deus associado à guerra e à criação. Um indício indireto da mesma profecia está nos ´Livros de Chilam Balam´. Escrita por vários autores após a conquista espanhola, a obra traz previsões para os katuns que, num outro sistema de contagem de tempo, se repetem a cada 256 anos. Para o katun associado a 2012, o livro prevê a chegada de vários seres, entre eles ´aquele que vomita sangue´ e o deus Kukulcan, muito popular na América Central.
Mas mesmo esses textos talvez não correspondam ao que entendemos por profecias. Natalino diz que, embora os maias tivessem uma visão qualitativa do tempo - havia períodos ´benéficos´ e ´maléficos´ - isso não implica que fossem fatalistas. Os finais dos ciclos eram datas religiosamente importantes, pois num deles a idade atual poderia terminar. ´Mas os sacerdotes podiam realizar certas práticas que assegurassem a continuidade do mundo´, explica Natalino. Ele diz que no período colonial e depois houve rebeliões populares inspiradas pelas profecias de Chilam Balam. ´Mas basta dar um pulo à América Central para ver que os maias de hoje estão cheios de projetos e nem um pouco preocupados com 2012.´
INVERSÃO MAGNÉTICA
Mais uma carga de lenha na fogueira de 2012: suposto enfraquecimento do campo magnético terrestre levaria à incidência letal de partículas solares
A luz e o calor produzidos pelo Sol tornam a vida na Terra possível. Mas, se não fosse pelas defesas que temos contra a radiação e o fluxo de partículas que chegam continuamente vindos da estrela, também não estaríamos aqui agora. Uma das principais defesas de nosso planeta é o seu campo magnético. Explicando de maneira simples, ele possui dois pólos, um norte e outro sul, que atualmente se situam mais ou menos perto dos pólos geográficos. Mas os geofísicos sabem que, de tempos em tempos, as polaridades se invertem, isto é: o ponto onde fica o pólo sul magnético se torna o ponto do pólo norte, e vice-versa. ´Sabemos que centenas de inversões aconteceram no passado, mas não se sabe o que as causa´, diz Eder Molina, professor do Instituto Astronômico e Geofísico da USP. A mais recente inversão ocorreu há 700 mil anos. E a próxima talvez esteja a caminho. ´Sinais sugerem que alguma coisa está acontecendo. A intensidade do campo entre os pólos norte e sul está diminuindo. Acredita-se que essa diminuição possa ser parte de um processo de reversão, embora isso seja apenas uma hipótese.´
A ocorrência de uma inversão súbita dos pólos magnéticos terrestres é um dos cenários apocalípticos previstos para 2012. Será isso que os cientistas estão detectando? ´Não´, diz Molina. ´Os indícios sugerem um processo muito gradual, que levará talvez milhares de anos. Nós conhecemos muito bem o campo magnético terrestre, graças ao mapeamento feito por observatórios e satélites. Essas informações nos ajudam, por exemplo, a procurar petróleo e minerais valiosos. Se uma mudança brusca estivesse ocorrendo, já teria sido detectada.´ Molina afirma que veríamos muitos sinais, sob a forma de problemas nas telecomunicações e o desligamento de usinas elétricas. Não haveria como esconder um problema desses, pois o que estaria em jogo seria a sobrevivência da civilização. Mas não vemos nada disso por aí.
CICLOS SOLARES
Aparente hiperatividade do astro alimenta especulações sobre bombardeio radioativo. Mas a estrela está se comportando conforme o previsto
Muitos dos cenários para 2012 baseiam-se na ideia de que o Sol estaria passando por um período de atividade sem precedentes. Os defensores dessa tese ressaltam o fato de que, entre 28 de outubro e 4 de novembro de 2003, ocorreram algumas das maiores explosões solares já registradas. Em 20 de janeiro de 2005, a Terra registrou o maior bombardeio de partículas de alta energia oriundas do Sol. Como 2005 foi o ano do furacão Katrina, há quem vincule os fenômenos, sugerindo que o clima é governado por variações na atividade solar. Como a previsão dos astrofísicos é de que 2012 registre um ponto de alta atividade em nossa estrela, há quem acredite que a soma de tudo isso seja uma catástrofe.
As variações na atividade solar são causadas por mudanças na configuração do campo magnético que ocorrem a cada 11 anos. Para Adriana Silva Valio, pesquisadora do Centro de Radioastronomia e Astrofísica Mackenzie, basta dar uma olhada nos dados dos últimos oito anos para ver que o Sol tem se comportado normalmente. De lá para cá, a atividade reduziu-se, e a tendência é que, nos próximos anos, volte a se intensificar, alcançando patamares elevados em 2012. Tudo isso está dentro do esperado.
O decréscimo da atividade aconteceu mesmo com as superexplosões de 2003. ´O fato é que a tecnologia para acompanharmos o fenômeno é muito recente. Talvez eventos semelhantes tenham acontecido no passado´, afirma Adriana. Ela também diz que o ciclo solar de 11 anos, por si só, não parece ser capaz de afetar significativamente o clima da Terra. ´No ponto de maior atividade, a quantidade de energia solar recebida pela Terra cresce apenas 0,1%.´
Porém, ela diz que fatores desconhecidos e ligados ao Sol parecem sim afetar o clima na Terra. ´No século 18, o Sol não apresentou manchas por sete décadas. O mundo ficou mais frio, e os canais de Veneza congelaram. Mas parece que para que mudanças assim ocorram levam décadas ou mesmo séculos´, diz.
PLANETA NIBIRU
Hipotético décimo planeta do Sistema Solar (há quem diga que se trata de outra estrela) estaria rumando de encontro à Terra. Acredite se quiser? Melhor não
Muito antes que a data de 21/12/2012 começasse a tocar corações e mentes, o israelense Zecharia Sitchin começou a divulgar suas ideias sobre a origem da Terra, inspiradas, segundo ele, na decifração de antigos textos babilônicos. De acordo com Sitchin, há em nosso sistema solar um objeto que a ciência moderna desconhece e que os antigos chamavam de Nibiru. Esse objeto, que pode ser um planeta ou uma pequena estrela, passaria próximo ao Sol a cada 3.600 anos. Sitchin afirma que, em uma dessas passagens, uma colisão entre um de seus satélites e um planetóide que existia entre Marte e Júpiter teria dado origem à Terra. Outros autores passaram a usar as ideias de Sitchin nos anos 1990. Eles dizem que Nibiru vai passar por perto de nosso planeta em 2012, e a atração gravitacional entre os dois resultará em dilúvios e terremotos.
Para Carlos Henrique Veiga, astrônomo do Observatório Nacional, é possível que existam planetas ainda desconhecidos no Sistema Solar. Poderiam ter, inclusive, algumas das características atribuídas a Nibiru, como um período muito longo e órbita extremamente elíptica. ´Mas as órbitas de planetas não se sobrepõem umas às outras. Esse cruzamento só ocorre com cometas e asteróides.´ Quanto à segunda possibilidade, a de que Nibiru seria uma estrela se escondendo nas vizinhanças, Veiga diz que sua presença causaria uma alteração na dinâmica do Sistema Solar. ´Tanto ela quanto o Sol teriam que girar ao redor de um centro de massa. Os planetas girariam em torno das duas ou desse novo ponto central. Não é isso que estamos vendo´, afirma.
Outro cenário sugere que, em 21/12/2012, o Sol, ao nascer, estaria alinhado com o plano da Via-Láctea. Nessa posição, receberia algum tipo de irradiação misteriosa vinda do centro da galáxia. Essa informação, porém, é contestada até por autores de populares livros sobre 2012, como o astrônomo John Major Jenkins. O que é verdade é que o Sol está cruzando o plano da nossa galáxia, mas isso não é motivo para preocupação. ´O centro da Via-Láctea está a quase 30 mil anos-luz de distância. Por isso, esse posicionamento não deverá trazer maiores conseqüências. No máximo, pode favorecer a atração de cometas e asteróides em direção ao Sol´, diz Veiga.
VISÃO ESPIRITUALISTA
Estudiosos do Calendário Maia como o espiritualista Fernando Malkun também defendem a teoria que a data será marcada por uma mudança de consciência: o fim do medo
Não podemos esquecer que na visão espiritualista do ´fim do mundo´, o lado material (catástrofes, fim do dinheiro, materialismo, consumismo, etc) é colocado em segundo plano. Não que isso não acontecerá. Eles falam que sim, mas o que vai separar um mundo do outro é uma mudança consciencial: a consciência egoísta e individualista ´sou ser humano, pertenço ao planeta Terra´ morrerá e nascerá a consciência universalista ´sou a encarnação de um espírito, pertenço ao Universo´. Como viu, muitos têm a sua versão do que vai ocorrer por volta de 2012. Mas se notar você vai ver que não será o ´fim do mundo´, mas o fim de ´um tipo de mundo´, da nossa civilização, sociedade, raça. Como sempre aconteceu, uma nova raça mais desenvolvida vai surgir após a extinção da velha.
Não nos restam dúvidas que nossa civilização está à beira do colapso. Nunca antes estivemos mergulhados em tantas crises ao mesmo tempo: superpopulação humana, pobreza e desigualdade social, crise financeira mundial, crise alimentar, crise energética, escassez de água e petróleo, consumismo frenético, ameaças de terrorismo e guerras nucleares, o reaparecimento de doenças mortais, escândalos envolvendo políticos, quedas de governos, mudanças climáticas e o aumento impressionante das catástrofes naturais e da extinção de espécies, além do agravamento da violência e distúrbios civis. Qualquer um que usar a inteligência deve compreender que, independentemente das profecias de 2012 se realizarem, nossa sociedade está caminhando a passos largos em direção ao precipício. Basta ser um bom observador e perceber isso. Por mais absurdo que possa parecer, isso não é nem um pouco irracional. Se voltar no tempo verá que grandes civilizações entraram em colapso quando atingiram o auge intelectual e tecnológico. Num só golpe elas desapareceram da face da Terra, deixando apenas perguntas sem respostas e um grande mistério.
CONCLUSÃO
Sabemos que não é a primeira vez que a humanidade levanta suposições sobre um provável fim do mundo. A devastação da Terra diante de algum fator natural que não teríamos chance de nos salvar é, na realidade, um medo iminente que nos acompanha ao passar dos séculos. E nem somos capazes de chegarmos a uma opinião conclusiva, mas a verdade é que a probabilidade de tal colapso da humanidade venha a ocorrer é muito baixa.
Não seria uma forma de despertarmos para este novo ciclo de vida que a humanidade está vivendo? Não seria uma forma de perceber o nosso real tamanho diante de nosso planeta e de aproveitarmos melhor nossos dias na Terra, pois, o fato verdadeiro nisso tudo é: caminhamos sim para um término de vida, o nosso próprio, e com isso concluímos esse texto com a pergunta: Como estamos aproveitando nosso momento de vida atual?
´Tudo tem o seu tempo determinado e há tempo para todo propósito debaixo do céu: há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de chorar e tempo de rir; tempo de abraçar e tempo de afastar-se; tempo de amar e tempo de aborrecer; tempo de guerra e tempo de paz.´
(Eclesiastes)
Fontes de pesquisa:
Matéria: ´Afinal, o que vai acontecer com a Terra em 2012?´, Revista Galileu, edição 206, publicada em Setembro de 2008.
Artigo online: ´O que é 2012? O que pode acontecer por volta deste ano?´, Website Porque2012, publicado em Novembro de 2009
NAMASTÊ!!!
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