"Porque nem mesmo compreendo o meu próprio
modo de agir, pois não faço o que prefiro e
sim o que detesto"
(Paulo-Romanos 7:15).
Todo aquele que resolve buscar a claridade da luz espiritual, aspirando pelo belo e pelo bom, encontra em sim mesmo comportamentos dicotômicos e também ambivalentes.
O poeta americano do século XIX, WALT WHITMAN, certa vez acusado de ser contraditório, exclamou: "Contradigo-me?. Pois bem, contradigo-me. Sou amplo: contenho multidões!!". É uma afirmação da mais pura autenticidade psicológica, pois aquele que se encontra comprometido com noções mais elevadas de humanitarismo, tem de se defrontar com seus "demônios" interiores, ou seja, o conjunto de forças psiquicas que parecem impelir o individuo em direções contrárias à sua vontade.
Carl Gustav Jung, certa vez declarou que: "Se voce não dispõe de uma sombra, então não é humano". Para ele a sombra é todo material psicológico, emocional ou intelectual que foi afastado de nossa percepção consciente e lançado nos bastidores do inconsciente. Isto no que tange tanto ao que nos poderia ser útil em nosso processo de humanização, quanto aquilo que reprimimos por medo de seus efeitos catastróficos em nossa vida de relação.
Ao buscar a luz temos que aceitar que ela nos fará ver o que está ofuscado na "penumbra" do inconsciente, encoberto por justificativas que tentam minimizar seus efeitos sobre nosso processo de auto-julgamento.
O poeta judeu, ELIE WIESEL, considerou que " O que rebaixa o ser humano não são suas fraquezas, mas as desculpas que ele invoca". Nunca fazemos o mal tão bem quando o fazemos com a chamada "boa vontade". Boa vontade que, na verdade, traduz um oculto sentimento de desumanidade, de intolerância.
Alguns tradutores da biblia acreditam que O Cristo, na verdade, proclamou:" Paz na terra aos homens de VONTADE BOA", porque ela difere da boa vontade. Talvez tenham mesmo razão em traduzir assim, porque a boa vontade já derramou muito sangue alheio em nome Dele que se proclamava o FILHO DA PAZ.
O escritor italiano, PIETRO UBALDI, ponderou que "as almas ardentes, feitas de tempestades, se tem os grandes vicios e as grandes fraquezas, tem também os grandes recursos. E se são capazes de muito pecar, são capazes, também, de muito amar e muito subir". É dificilimo aceitar esta humana ambivalência, por isso nem todos os buscadores da luz suportam esta dolorosa condição e abandonam sua peregrinação para não mais sentirem o fardo desta auto-percepção.
O escritor SOMERSET MAUGHAN assim conseguiu se descrever: " Há ocasiões que examino as várias partes do meu caráter com plerplexidade. Reconheço que sou constituido por diversas pessoas, e que a pessoa que naquele momento está por cima inváriavelmente cederá o lugar à outra. Mas qual é a verdadeira?. Todas ou nenhuma?". É uma pergunta dificil de ser respondida, pois cada dificuldade que enfrentamos na vida, cada desafio, pode exigir que coloquemos em jogo certos personagens que sómente naquele momento são aptos a vivenciarem a nova experiência. Personagens estes que, normalmente, talvez nem suspeitariamos da presença deles em nós mesmos.
Hoje, a maioria das escolas psicológicas já admite a multiplicidade emocional, psicológica e intelectual do ser humano. A psicologia junguiana, por exemplo, estipulou que a INDIVIDUAÇÃO é uma meta a ser atingida pela humanidade, quando então, todos os conteudos psicológicos que se opõem dentro de um mesmo individuo, serão reconhecidos e governados de forma consciente pela pessoa. É como que se o "dono da casa", a alma, soubesse como dar a cada função, cada impulso, uma direção adequada, terminando, desta forma, qualquer tipo de contradição
.
É de C.G. Jung, a famosa frase: "Nao se chega à consciência psicológica sem dor", significando que para se TOMAR POSSE DE SI MESMO, o caminho é longo, estreito, pois o ser humano está em construção, ainda não passa de um processo.
Cervantes aconselhou:"Não ame o que voce é, mas apenas o que pode tornar-se". Indicando que não somos, necessáriamente, o que aparentamos ser e que não devemos nos contentar em vivermos na superficie do que julgamos ser, pois muito abaixo de nosso nivel consciencial existem multiplas possibilidades humanas esperando pelo seu desabrochar.
O TORNAR-SE parece ser uma meta interminável da espécie humana.
Os aprendizes da luz devem ser corajosos o suficiente para admitirem que ainda precisam das pessoas que personificam todas as coisas de que gostariam de se ver livres - sua ambição, sua avarieza, sua ira, etc., pois isto é um atestado de autenticidade, aliás, tão bem explicitado por JESUS na parábola do fariseu e do publicano, conforme consta do Evangelho de Lucas, capitulo 18, versiculos de 9 a 14. Esta parábola nos faz refletir no belo conceito da escritora MARGUERITE YOURCENAR(1903-1989): "Julgamo-nos puros enquanto desprezamos o que não desejamos". Não foi sem razão que O Cristo convocou Judas a fazer parte do colégio apostólico nascente. O Senhor tinha em mente mostrar aos buscadores da luz que até mesmo eles poderiam se converter em antíteses de Sua mensagem. Mas, quem, em sã consciência, pode admitir que também Judas não era um peregrino da luz?.
Voltemos ao pensamento de C.G.Jung quando ele diz que "Tudo aquilo que nos irrita nos outros pode nos conduzir a uma melhor compreensão sobre nós mesmos". Ás vezes, o outro me informa através de seu comportamento, sobre algum aspecto de minha própria alma que ainda desconheço. O mundo pode se apresentar como um magnifico espelho onde eu possa ver com mais clareza meus defeitos e minhas qualidades.
O psicógologo ROMEU GRAZIANO definiu desta forma a dificil ascensão psicológica do ser humano: "Se nos dispomos a viver apenas sob a luz, devemos saber que uma mesma medida de treva reagirá dentro de nós. Daí ser este um sintoma frequente nas pessoas comprometidas com o trabalho espiritual".
Carregamos dentro de nós mesmos o SYMBOLLEIN(O que une), e o DIABOLLEIN(O que desune). É uma condição da própria experiencia humana. "O ser humano, a todo momento, é solicitado por objetivos divergentes, e mesmo opostos. Todos os caminhos estão abertos a seus passos. Ninguém poderá prever, com precisão, qual o rumo que irá escolher. O ser humano é sempre uma interrogação para sí e para os outros"(JUVENAL ARDUINI).
O rabino JOSHUA LIEBMAN, escreveu com sabedoria incomum: " Quando exigimos de nós mesmos a perfeição, a liberdade, o poder extremo, não há duvida que estamos indiretamente inculpando a nossa alma. Pois tudo aquilo que não vem naturalmente para o nosso intimo degenera um dia". E no livro do Eclesiastes(Ecl. 7:16), encontramos este sabio conselho: "Não sejas demasiadamente justo, nem exageradamente sábio; por que te destruirias a ti mesmo?".
Em nós, a linha que divide o sagrado do profano, a razão da loucura, são muito tênues. Estamos incursos num longo processo de auto-burilamento. Podemos recusar esta tarefa de suma importancia ao nosso crescimento psicológico, mas o preço a ser pago por esta recusa é permanecer na inconsciencia de si mesmo, andando sempre em circulos, fechado num espaço restrito onde a beleza e a complexidade do universo passam despercebidos.
Nâo foi sem razão que o maior psicólogo que a humanidade já teve, advertiu com ternura:"Aquele que perseverar até o fim ganhará a própria alma!!".
Tarcisio Alcantara
25-07-2011
NAMASTÊ!
2 comentários:
Thanks for spreading the word about this.
Muita luz para você, amiga!Mais ainda...
Bjs!
Postar um comentário